É normal, no novo normal uma parte ou até grande parte do público que está participando de uma palestra, aula, evento manter suas câmeras fechadas durante todo o tempo?
Evidentemente há momentos que necessitamos, por alguns minutos desligá-la, mas podemos retornar e ligá-la novamente. Durante mais de 100 dias em isolamento, tenho observado este tipo de comportamento. Inclusive o meu. Portanto, me incluo nessa, posso falar por mim.
Isso ocorreu, algumas vezes, quando, são aulas de um curso de longa duração, e eu não participo ativamente, somente ouço. Então aproveito o tempo, que é longo, para fazer tarefas que não preciso pensar e que me sobrecarregaram na pandemia: lavar roupas, limpar a casa, cozinha, regar o jardim.
Em outros momentos, ocorre por estar fazendo outra atividade simultânea de menor interesse, como checar agenda, organizar materiais e livros. Já ocorreu de a conexão não estar boa também (isto em raros momentos).
No entanto, quando estou realmente inteira e conectada com o tema e o facilitador, eu quero olhar nos olhos dele. Eu quero sentir a troca e a energia além do estado de “somente ouvir e receber”. Também quero doar, assim como ocorre durante um atendimento a um paciente ou em um processo de mentoria ou coaching. Até mesmo em uma pequena reunião, principalmente com um cliente: quem fecha sua câmera? Somente por uma rara exceção. Aparecer dá trabalho, não é mesmo? Procurar um local reservado, alguém que cuide das crianças, dar “um tapa” no visual, se preparar com antecedência.
Senti a necessidade também de escrever este texto para compartilhar as dores dos facilitadores, palestrantes e professores, que também sentem a falta de conexão, e mesmo assim cada um tem a liberdade de fazer a sua escolha de como deve participar.
Mas repensei e disse a mim mesma “chega Brianza” com este tipo de atitude!
Então, começando a “dar as caras” em todos os eventos, mesmo sem estar maquiada ou arrumada, notei a grande diferença que acontece para a pessoa que está compartilhando conosco seus conhecimentos e para mim.
Além de se sentir respeitada e acolhida, a pessoa se sente também retribuída, e consequentemente, a troca ocorre com mais intensidade, quase como quando estamos em um evento presencialmente.
Lembram-se daquela época remota a qual fazíamos palestras presenciais e alguns participantes mantinham conversas em duplas, ou apenas consultavam o celular o tempo todo, causando desconforto ao grupo e ao facilitador? No novo normal, em tempos digitais, nosso público pode ficar à vontade para fazer o que quiser, durante o evento, basta deixar suas câmeras desligadas e seus fones desativados. Acabou o desconforto. Será? Uma tela sem imagem, ou no máximo uma foto sorrindo para o facilitador, sem vozes, sem interação, não deixa de ser outro tipo de incômodo? Seria muito eu arriscar uma falta de respeito com o profissional que se dedicou para compartilhar seu conhecimento? Obviamente, há exceções, como problemas de conexões entre outros imprevistos. No entanto, não são com todos.
Para os participantes que perguntei, me disseram que a foto já é o suficiente para que o palestrante se sinta confortável. Eu mudei minha postura já há um bom tempo e tenho feito perguntas apreciativas aos colegas participantes para entender se eles passaram pelo mesmo processo que o meu, de “participante Ghost”.
Muitos dizem que preferem manter as câmeras fechadas e incluem: “tenho crianças em casa, não me arrumei para o evento, sempre tenho problemas de conexão, só posso participar se estiver em outro trabalho simultâneo” entre outras desculpas (ou não, estou generalizando), como eram as minhas. Então, meus caros, o resultado poderá ser: apenas uma minoria para interagir e o facilitador precisará se contentar com alguns “seres humanos” em movimento e ao vivo, olhando para ele e interagindo, para que ele se sinta vivo também.
Qual meu propósito neste artigo? Propor algumas reflexões e indagações neste novo ciclo, tão confuso e caótico para todos nós. Talvez questões como estas possam nos ajudar.
O evento não te interessou? Faça o que você faria no presencial. Não se inscreva. Não me responda que iria participar e, se realmente não estiver alinhado com suas expectativas, desligar a câmera, fazer outras atividades e eventualmente, dar alguma desculpa ao facilitador e ao grupo.
Isso quando alguém se dispõe a dar alguma justificativa, pois é comum se fechar em seu mundo e não falar nada. Obviamente há exceções e imprevistos, que ocorrem, principalmente em home office. Mas e quando a maioria está “invisível” durante o evento? Cabe a cada um de nós analisar isso em segredo, com nossa consciência, se realmente não é possível ou é apenas uma desculpa.
Não está tão interessante o evento? Faça perguntas. Questione. Faça críticas construtivas. Participe. Agregue valor, já que você tem algo a mais para contribuir.
Você é tímido? Agora temos a solução para os tímidos! O chat! Pode ficar à vontade para trocar com pouca exposição! Além de ser um estímulo para que você se sinta cada vez mais confiante!
Mas amigos, não esvaziem a sala! Não fechem suas câmeras sem um motivo razoável, por mais tentador que seja. Durante minha mini pesquisa “caseira”, digamos, os profissionais acham normal telas fechadas ao participarem. E acham normal entrar e sair quando tiverem vontade. Não há mais necessidade também de seguir o horário. Então este é o novo normal?
Eu penso de maneira diferente.
Se o que temos hoje, ainda em semi-isolamento, é somente o mundo digital, por que não tiramos o máximo proveito dele? Por que não aproveitar todos os minutos possíveis de interação com o outro e estar presente, de verdade?
Olhar para o facilitador, olhar para os colegas presentes, conhecer, mesmo que superficialmente, o local deles, onde trabalham, descobrir que seu colega participante tem um filho lindo que escapuliu e apareceu na tela! Ou que tem um cãozinho que latiu sem “permissão”, um gato que invadiu a tela de repente.
Isso pode atrapalhar o andamento do evento? Talvez.
No entanto, acredito que terá mais “alma”. E o olhar e sentir os detalhes de cada um para nos conectarmos de outras maneiras? Rever aqueles que não encontramos há tempos antes da pandemia? Aproveitar para fazer Networking?
Então, amigos, vamos partir para este novo normal? Porque a velha nova frase clichê ainda está valendo: quem não é visto, não é lembrado. Ainda assim, a escolha é minha, é sua, é nossa.